sábado, 16 de fevereiro de 2008

Todo homem tem um preço e quanto menos ele tem mais barato ele é.


O texto abaixo é de um cidadão de classe média alta que teve uma experiência com PMs após ser vítima de um acidente, note em suas palavras que ele não tem raiva dos policiais e sim repulsa e medo.

"Uma bela tarde de sol, um engavetamento numa grande avenida da cidade. Consegui frear a tempo de não encostar no carro da frente. O carro de trás, não. Havia mais duas pessoas comigo. A amiga no banco traseiro desmaiou e foi logo despachada para um hospital junto com o outro carona. Mas meu horror começou mesmo quando fiquei entre a patrulhinha e os companheiros de acidente. O playboy descamisado do carro que abalroara o meu não tinha seguro e me fez uma proposta assaz curiosa e bem brasileira, no mau sentido: que eu assumisse a culpa pelo acidente. Assim, a minha seguradora pagaria pelos dois carros. Não que eu achasse que ele tivesse culpa. A situação era, de fato, um acidente: alguns metros à frente algum mané deu uma freada brusca, todo mundo teve que seguir o exemplo, e ele foi mais infeliz. Mas como eu poderia assumir a culpa por receber uma batida na traseira? E por que ele partia do princípio que fraude é um esporte universal? Nem respondi. Apenas me afastei e sentei ao pé de um poste para proteger a careca do sol. Nisso, um dos policiais se aproximou: — Vou ali comprar uma água. Devo ter murmurado algo entre como “beleza”, mas o policial ficou estático, me encarando. Nunca terei certeza do que ele queria, mas a única opção crível é que fosse a deixa para eu pagar por sua “água”, provavelmente sem esperar troco. Ah, sim, eu era a vítima do acidente e tinha todos os documentos em ordem, mas mesmo assim ele esperou pacientemente que eu me manifestasse. Quando desistiu de encarar meu silêncio, também desistiu de comprar a água. Chegado o guincho, fui para a delegacia, onde dei meu relato e citei como vítima a minha amiga que foi parar no hospital. Dias depois, quando fui buscar o boletim de ocorrência… a existência dela fora simplesmente apagada do papel. Como “vítima”, constava apenas uma das popozudas do carro que batera no meu. Aparentemente, ela arranhou a mão. Não sei como foi feita essa mágica, só posso especular. Então decidi nunca mais dirigir. E o principal motivo para isso é que eu tenho pavor de polícia. Pavor até de confessar que tenho medo da PM. Isso aconteceu há anos, e nunca tive coragem de escrever a respeito. Não perdi o medo, mas acho que o entendi melhor graças à crise da PM nas últimas semanas. Não entendo xongas de segurança pública, sou só carioca. Só um carioca que, dia desses, passeando à noite por um subúrbio cercado de favelas e que me parecia particularmente seguro, ouvi do taxista: — É que os donos da boate pagam 20 reais por noite pra patrulhinha circular aqui, dez pra cada policial. Mas daquela esquina pra lá o bicho pega. Como um simples carioca, não sei quem é mocinho e bandido nessa crise entre a Secretaria de Segurança e um grupo de coronéis da PM, só sei que não vejo vantagem em ser “protegido” por homens insatisfeitos com o salário e fazendo bico por aí de arma na mão. Se eu fosse um jovem negro de classe baixa, certamente teria medo por ter maiores chances de ser preso ou morto. Como adulto branco de classe média alta, o medo que tenho da PM é o mesmo que tenho de um mendigo. Medo de que ele venha me pedir uns trocados e acabe esfregando a sujeira das ruas em mim. Aumento de salário não traz ética instantânea a ninguém, não vai fazer com que a PM carioca perca a imagem de corrupta, violenta e ineficiente. E se esta história sobre a batida de carro serve para alguma coisa, é para exemplificar que a corrupção não é exclusividade de uma corporação, está entranhada na sociedade, e não vai acabar facilmente. Por outro lado, a PM nunca vai perder essa imagem sem antes se livrar da imagem de mendicância, de que vale quarqué déi real, uma água, uma coxinha de galinha. Longe de mim defender os barbonos, não entendo direito que apito tocam. Só não compreendo que uma justificada reivindicação salarial seja lida como insubordinação militar. Não é por falta de trocados que um PM desonesto saqueia um caminhão. Mas nem por isso a frase que deu origem à crise — “um soldado mal pago é presa fácil de corruptos ativos nas esquinas” — soa menos verdadeira. Dificilmente teremos mais PMs honestos (sim, eles existem) enquanto quarqué déi real fizerem tanta diferença para pagar as contas, da mesma forma que nunca teremos paz nas ruas enquanto o crime for mais atraente que a escola para jovens pobres.Daí ser difícil entender a reação de Sérgio Cabral Filho, que nunca pareceu tão arrogante, tão Garotinho. E pior: abrindo o flanco para a empreitada eleitoral de Wagner Montes. Resta torcer para que os novos carros em tom azul-claro e as gratificações para soldados — anunciados bem depois de instaurado o furdunço — sejam o suficiente para acalmar os ânimos. Para levantar, duvido.

[JOÃO XIMENES BRAGA é jornalista. E-mail: jxbragaoglobo.com.br.]"

Realidade, dolorosa realidade, qualquer R$10,00 ajuda no orçamento de quem ganha menos da metade de uma diarista. Nós temos sorte de eu estar empregada e como aux. de enfermagem ganhar mais que ele, vou continuar tirando meus R$10,00 das dobras de plantão e me considerar feliz, pois meu marido nem pode tirar serviço para os outros em seu quartel.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sra. Silvia isso é o que a gente mais vê por aí, os policiais "mendigando" R$2,00 das Kombes irregulares, parando motoristas para ver se seus documentos não estão atrasados para conseguir seus R$10,00, forçando uma barra na hora de cada multa, etc. Será que com salários maiores eles vão tomar jeito? Quem sabe? Só posso afirmar que do jeito que está não pode ficar.

Anônimo disse...

FELIZ DE SEU MARIDO QUE A SENHORA TRABALHA E AJUDA EM CASA. ELE TEM MUITA SORTE.

Anônimo disse...

Acho que é importante dizer tb, que fora ser mal pagos e estarem sempre em risco. Tb tem que conviver com persseguições por parte dos coronéis, que levantam falso e colocam como medida administrativa, sujam o nome das pessoas sem prova, destroem a família, transferem, acusam, em resumo acabam com a vida do policial.Mas tudo isso é considerado medida administrativa. E são agraciados com promoções, conseguidas atravês de contatos politicos. E ainda ganham comando intermediários, ou outros..
Que polícia é essa que nossos marido servem que não dão a eles nem o direito real de defesa. E deixo claro que estou falando como mulher de um oficial que foi persseguido e que até hj ele e minha família toda sofre as consequências deste absurdo.

Anônimo disse...

Acho realmente que devemos fazer um panelaçõ na porta do governador. Nossos maridos podem sofrer com MEDIDAS ADMINISTRATIVAS.Mas nós não...