quarta-feira, 24 de junho de 2009

Indiferença: A pior violência contra nossas crianças!

Venho acompanhando diariamente pelos jornais o caso da menina Sophie que morreu no hospital de Saracuruna. Supostamente vítima de maus tratos infligidos pela tia e pela prima, a menina foi internada com traumatismo craniano, fratura nos pulsos e diversos hematomas. O pai, um empresário austríaco, veio para o Brasil assim que tomou conhecimento do fato, e a mãe, que mesmo sabedora dos supostos maus tratos abandonou as crianças e foi viver com um namorado, soube do ocorrido pelos jornais.
O fato, por si só, não me espanta, já que sou uma trabalhadora da área de saúde do nosso município e me deparo com os casos mais escabrosos, o que me causou muita surpresa foi a importância que a mídia está dando ao fato, já que todos os dias têm internações de crianças nos diversos hospitais do estado e do país, que são vítimas de abusos e maus tratos e nenhuma delas vira notícia, ninguém se importa se um bebezinho de três meses deu entrada na emergência do HGV com traumatismo craniano depois de ter sido jogado contra a parede pelo próprio pai, ninguém liga ou toma conhecimento quando uma menininha de três anos dá entrada numa emergência qualquer com ruptura na vagina após um estupro cometido pelo padrasto ou se um recém nascido é internado após ter sido envenenado com chumbinho. Quantos de vocês chegam a conhecer estes casos? Quantas notícias desse tipo vocês lêem nos jornais no seu dia-a-dia? Creio que muito poucas, já que a grande maioria dos casos vem dos subúrbios e da baixada (não que não ocorram nas zonas Sul e Oeste, mas nos hospitais particulares e com “gente bem” dificilmente a mídia toma conhecimento), mas o caso da pequena Sophie tem um ítem que vende muito bem: O pai além de ter uma boa situação é estrangeiro, o que torna a menina uma excelente matéria e relega nossos pequenos joãos e marias (com letra minúscula mesmo) os verdadeiros zeros à esquerda, que não tem a mínima importância, são só mais números na estatística, mais temas para discursos politiqueiros em época de eleição. O que muito me magoa é saber que todos os dias os hospitais recebem essas pequenas vítimas que são atendidas pelos Serviços Sociais e encaminhadas aos conselhos tutelares e ninguém liga, ninguém vê. E sabe por quê? Porque se o Zé Pedreiro, que é semi-analfabeto, enche a cara do filho de três anos de “porrada” deve ser porque o moleque é uma peste e tem que ser educado e isso não me importa nem um pouco, além de ser um assunto muito desagradável para ser a principal companhia do meu café da manhã! Gostaria muitíssimo que os jornais e as emissoras de TV designassem um repórter para ficar pelo menos 24 horas nas emergências pediátricas dos hospitais para acompanhar os casos suspeitos de abusos que recebemos todos os dias e, talvez aí, passem a dar importância a todas as nossas crianças e não apenas as que são filhas de “alguém”, talvez assistindo cada um dos casos possam ver que o sofrimento não pertence só aos que tem alguma coisa, mas que existe muito mais por aí. Existem inúmeros filhos de Zés, Marias, Joãos, Chicos, Aparecidas e etc que passam por um monte de coisas e continuam passando só porque “nós” nem ligamos, não vemos pois não saiu no jornal e daí eles vão continuar nessa vida: Vai pra casa, apanha, vai pro hospital, melhora, vai pra casa, apanha... Até que um dia, do hospital vai direto pro IML e dali pro cemitério. Só tenho um nome para se dar tanta importância para um caso e nenhuma para tantos outros: HIPOCRISIA!