sexta-feira, 28 de agosto de 2009

DESABAFO II

Resolvi aproveitar a repercussão da postagem sobre meu grandão para falar um pouco sobre o atendimento dispensado aos PPMM nos HPMs. Antes de começar a comentar a respeito de vários fatos que ocorrem durante os atendimentos, não só nos hospitais como também nas policlínicas, quero deixar claro que como profissional de saúde conheço as diversas dificuldades enfrentadas por nós durante o trabalho, compreendo também que deve ser extremamente difícil para um médico manter-se trabalhando como oficial PM, cumprindo escala, enquanto em um consultório ou clínica ela irá ganhar bem mais; consigo também, por estar dentro do sistema de saúde pública, entender as dificuldades enfrentadas com falta de pessoal afinal, além dos que se desligam permanentemente do serviço, existem aqueles que pedem as licenças sem vencimentos, as licenças médicas, as licenças especiais e outros tipos de afastamento que são facultados aos funcionários públicos, sejam eles militares ou não. O que vim aqui falar é mais um discurso profissional, é uma divagação a respeito de algo que aprendi durante a minha experiência de trabalho e sobre um treinamento que recebi chamado “Humanização no tratamento hospitalar”. Aprendi que o profissional de saúde deve dirigir-se ao paciente não como doente do leito x ou pelo nome da moléstia que carrega, mas como Sr. Fulano de Tal, para que no decorrer do tratamento ele não perca sua identidade primária de ser humano, aprendi que o carinho e a dedicação do profissional são preponderantes na recuperação do doente, fui treinada para cuidar do meu cliente como se fosse alguém próximo meu e não como se fosse “coisa” sem utilidade e valor.
As queixas que tenho ouvido a respeito dos atendimentos nas unidades de saúde da PMERJ são, na sua grande maioria, a respeito da desconfiança que os médicos deixam transparecer com relação às queixas dos pacientes, esse foi o meu problema como é de muitos. Falei com várias pessoas e li comentários, não só no meu blog, sobre casos nos quais os médicos tratam as queixas como fantasias ou mentiras e que nem de posse dos exames se convencem que as queixas são reais. O médico, mesmo numa unidade militar, não pode esquecer que antes de ser um superior hierárquico é um profissional que fez um juramento de salvar vidas, independente de que vida seja e que o paciente que ele está atendendo não merece ser tratado como um mentiroso em potencial nem como um caçador de licenças médicas. Existem casos que podem agravar muito se tratados com indiferença e se não forem cuidados com rapidez e eficiência. Agora vou falar diretamente com minhas colegas da enfermagem, não só as técnicas, mas também as enfermeiras: Sejam vocês cabos, sargentos, tenentes, ou seja lá qual cargo ou patente, não podem esquecer que nós também fizemos um juramento e que educação vem de berço, também trabalho com o público e sei que muitas vezes o acompanhante do paciente torna-se inconveniente ou agressivo e cabe a nós contornarmos a situação; é difícil? Claro que é! Como explicar a alguém que está vendo uma criatura querida sofrer que o médico está demorando porque foi tomar um café e você não está podendo sair dali naquele momento para chamá-lo? Ou que o “doutor” está em outro atendimento? Caramba, a nossa função é administrar os cuidados prescritos ao enfermo e não de servir de babá do médico ou fazer as vezes de recepcionista, mas temos que lembrar que somos o elo intermediário entre essas duas funções além de sermos as pessoas mais próximas do cliente e de seu acompanhante e, por isso, somos os profissionais que mais sofrem com os desabafos, afinal a visão do médico promove o alívio e a certeza que o sofrimento vai acabar, ele se torna o porto seguro, mesmo que nós sejamos o instrumento final para a promoção desse alívio, então, caras colegas de trabalho, vamos ter um pouco mais de paciência e carinho com as pessoas que, num momento extremo, estão dependendo de nós, vamos lembrar do nosso juramento. Tenho certeza que ao responder com educação e carinho a uma atitude mais agressiva a resposta será mais branda, ninguém bate em que lhe afaga.
Esse desabafo foi a forma que encontrei para tentar mostrar ao Cel James, que tem visitado o blog e que foi muito solicito comigo, que o problema não é só de falta de pessoal, mas também de posicionamento profissional. Percebi ao conversar com o diretor da DGS que ele é um profissional consciencioso e, como tal, põe a saúde do cliente em primeiro lugar e não a sua posição na hierárquica e esse posicionamento deve ser transmitido a todos os profissionais de saúde da PMERJ. Faz-se urgente um bom treinamento em tratamento humanizado para todos os profissionais de saúde da corporação, é claro que salários dignos ajudam muito para modificar a postura do profissional, pois quando a pessoa é bem paga ela trabalha muito mais satisfeita e isso se reflete diretamente na sua produtividade, porém salário é uma questão governamental que, me parece, não tem a mínima importância para o Governador Sérgio Cabral, mas existem “n” outros estímulos para alavancar o bom atendimento, entre eles melhores escalas de serviço, folgas extras, etc.
Conto com a consciência e a inteligência do diretor da DGS e do Comandante Geral para que haja melhora visível no atendimento das Unidades de Saúde da PM, nós não temos condições de pagar um plano de saúde e saber que estamos dependendo de um atendimento precário em matéria de tratamento humano nos faz sofrer por antecipação.
Aproveito também para dar uma sugestão: A volta das UBS nos batalhões é ótima idéia, desde que os profissionais tenham material para trabalhar, não adianta ter dentista em uma UBS e não ter material para fazer um procedimento básico de obturação. As UBS deveriam ter clínico, dentista, ginecologista, pediatra, profissionais de enfermagem além de coleta de exames básicos como sangue, fezes e urina. Sei que é “sugerir” demais, ouvi do próprio cel. James que a polícia sofre com uma falta “crônica” de profissionais de saúde, afinal a verba e a melhoria salarial dependem do governo e, mesmo com tantos policiais descontando fundo de saúde, a desculpa da falta de verba está sempre na ponta da língua do nosso governador.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

DESABAFO

Meus amigos,
Sei que ando muito longe do blog, mas os problemas que estou vivenciando não me deixam ter cabeça para outra coisa que não seja a saúde do meu marido. O meu grandão, como eu o chamo, está travando uma batalha bem difícil e só vim fazer essa postagem pois sei que a força de vocês e as suas orações serão preciosas nesse momento. O que vou narrar a seguir aconteceu comigo e, muito provavelmente, vem acontecendo com outras pessoas que necessitam de atendimento no HCPM. Desde o ano passado meu marido vem apresentando alguns problemas de saúde que se agravaram no início do ano com uma perda crescente de peso, depois que muito insisti ele resolveu procurar um médico que, sem pedir nenhum exame, disse que estava tudo bem, eu não me convenci e pedi que ele procurasse outro médico (também na PM) que pediu alguns exames. Com o resultado em mãos ele voltou ao médico que disse que ele nada tinha e que o cansaço que vinha sentindo seria resolvido com algumas vitaminas, não sou leiga nesse assunto e vi que tinha algo errado nos exames. Desde fevereiro tenho visto meu marido perder peso e se tornar cada vez mais apático, ele perdeu uns 10 quilos de lá para cá, e eu passei todo esse tempo me perguntando como dois médicos não conseguiam enxergar o que eu via tão claramente, então dei um ultimato a meu marido: Iríamos procurar um médico particular. Sou funcionária municipal e tenho um plano de saúde ambulatorial bem básico, desses que nem cobrem todos os exames, mas dá para quebrar um galho e, antes de marcar um clínico, peguei seus exames de fevereiro e levei para uma médica conhecida minha ver e ela disse que, mesmo sendo pediatra dava pra ver que tinha algo muito errado nos exames dele e seria bom buscar um clínico para uma primeira avaliação, nada disse sobre os dois médicos já consultados. Levei-o em uma clínica próxima a nossa casa e o médico ao avaliar os exames mais antigos nos disse que era necessário fazer novos exames de sangue além de outros tipos de exames que poderiam confirmar a suspeita dele, fez vários pedidos e nos disse para fazermos o mais rápido possível. Um desses exames não era coberto pelo plano e muito caro para nossos ganhos, mas graças a Deus, tenho alguns conhecimentos e consegui fazer o exame dele que veio a confirmar uma séria doença de intestino, um processo inflamatório grave, inclusive com suspeita de câncer. Como um médico, um não, dois médicos do hospital da corporação não percebem sintomas graves em um paciente? Seria descaso ou necessidade urgente de manter todos os homens na rua? Meu marido, apesar de tudo, continua trabalhando, já que ainda não foi ao HCPM, estamos esperando que o resultado da biópsia fique pronto para tomar uma decisão, sabemos que as chances de ele passar por uma cirurgia é muito grande e eu morro de medo de ele ser operado por mais um “médico” como os outros dois que o atenderam, mas como PM ele precisa passar por lá para que suas dispensas e atestados tenham validade. Por isso vim aqui pedir ao Comandante Geral que olhe pelo HCPM, parece que os profissionais de lá não estão ligando muito para o real estado de saúde dos policiais, como aconteceu com o meu marido, deve ter acontecido com muitos outros e é assustador pensar que perdemos quase seis meses sem que ele se tratasse, seis meses preciosos, pois agora ele já está apresentando febre diária e sangramento, o que poderia ter sido evitado se o primeiro profissional consultado tivesse tratado meu marido como um ser humano em busca de ajuda e não como um cão sarnento esperando o sacrifício. Por favor, alguém salve o HCPM, eu tive recursos e conhecimento para socorrer meu marido fora de lá, mas e quem não tem? Vai morrer à míngua?